quarta-feira, 26 de agosto de 2009

todo sobre mi madre.

Quando somos crianças, queremos ser iguais as nossas mães. Toda menininha anda pela casa desfilando o sapato, que parece enorme, da mãe, quer passar o batom da mamãe e repete as frases que ela diz pro papai durante as brincadeiras de boneca. Mas aí a gente cresce.
Cresce e se acha as donas da razão e não vê a hora de ser diferente. Pinta o cabelo pra ficar diferente, põe piercing, briga, discute, faz drama, bebe demais e jura que nunca vai ser igual a ela. E diz mais, quando tivermos filhas, não seremos iguais elas são conosco.
Só que daí a gente cresce mais uma vez e aí percebe um lado da mãe que até aquela hora não dava pra ver: o quanto é difícil ser ela.
Trabalhar o dia inteiro em algo que ela talvez nem goste e aguentar você reclamando da sobrancelha que ficou torta, aguentar seu pai (ou o namorado dela) e PIOR, às vezes nem ter com quem dividir a vida, não ter nem um paquerinha. Fazer as unhas, pintar a raiz do cabelo, fazer mechas, estar sempre bonita, ler jornais, ler revistas, publicar artigos e ainda fazer tudo por você.
Ela trabalha todos os dias das oito as seis, mas arranjou um tempo pra te levar no médico quando você acordou enjoada. Ela não gosta das suas músicas mas ouve no PRÓPRIO carro porque você sequer dá opção. Ela tinha uma reunião importante, mas atendeu o telefone quando você estava chorando porque bateu o carro na coluna do prédio. Ela não dorme enquanto você não chega e você insiste em chegar as 5 da manhã e sequer manda uma mensagem avisando que vai demorar. Ela te ajuda a ler, dirigir, escrever o pré - projeto do TCC, convencer seu pai que seu namorado é um bom guri, apesar de torcer pra um time diferente do dele. Aí você para e pensa: não seria ser tão ruim ser igual ela, né?
Too late, honey. Nessa altura, você já vai estar andando igual ela, falando igual ela, se vestindo igual ela e acreditando nas mesmas coisas, além de fazer o que você acharia absurdo dias atrás: CONCORDANDO com ela.
Dentro de você sempre existiu muito dela, mas você nunca viu, na maioria das vezes, só os outros enxergam, por isso te dizem que vocês são parecidas, que tem a voz igual, que parecem irmãs, que cada dia que passa estão mais iguais.
Você? Você não vê, se olha no espelho e se acha totalmente diferente. Mas você é fruto direto dela e aqui vão as notícias: você vai ficar igual ela.
Não tem jeito, meninas, todas nós vamos ficar iguaizinhas as nossas mães, querendo ou não, gostando ou não.
Nem perca tempo criticando, dizendo que isso jamais vai acontecer, daqui a pouco você vai olhar no espelho e não vai ser mais a personalidade que vai ser igual, vão ser os olhos, as bochechas e as ruguinhas. Então use seu tempo investindo em um bom protetor solar e em momentos agradáveis com ela, conhecendo ela melhor e, lógico, conhecendo você mesma daqui uns aninhos.
Meninos, fica a dica: Olhem as mães, suas paqueras/namoradas vão ficar iguais.
Sorte que a minha é loira, bonita, bem sucedida e gente boa.
(e má motorista)

=*


ps: Vejam o filme do título do post,como todos do Almodovar, é demais!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

"summer" nights.

Ela sempre adorou noites de calor. Aquelas quando dá pra dormir só de lençol. Aquelas em que a gente sai pra beber chopp com os amigos em algum lugar aberto, sem ter que levar casaco. Aquelas noites em que dormir soa como desperdício. Mas dessa vez, ela não sabia definir se fora a noite quente, a quantidade de vinho ingerida ou aquela sensação de que o pior do ano já passou e agora cada dia é só um a menos na contagem regressiva pra 2010.
Não dava mesmo para entender ou explicar o porquê daquilo tudo. Quer dizer, era óbvio demais? Sempre foi assim e ela tentava, incessantemente, negar? Ou depois de tanto tempo, quando pararam de procurar em alheios, acharam um no outro o que queriam?
Não dava pra ter certeza do porque aquilo acontecera, mas dava para ter a certeza que, dessa vez, parecia mais leve. Mais tranquilo. Mais verdadeiro.
Aconteceu que depois de tantas tentativas, tantos começos sem nenhum final, o destino parecia estar conspirando a favor. Ou não. Ou, finalmente, eram eles que queriam aquilo? Queriam ver o que poderia acontecer. Não só por ser uma curiosa incurável mas por ambos desejarem?
Ela não sabia explicar porque, não sabia aonde isso ia parar. Mas conseguiu, depois de anos, ser sincera. Sincera com a situação, sincera com ela mesma. Não conseguia (e talvez nem quisesse) mais negar o quanto gostava do reflexo dos dois juntos. Não conseguia mais cair em joguinhos, se deixar levar por outras propostas, por outros olhares. Só conseguia perceber que dessa vez era de verdade. Não eles, não aquilo. Talvez isso também fosse, ah, como ela queria que fosse.
Mas o que realmente era de verdade era o que ela sentia.
E quanto queria que aquela noite quente, totalmente atípica, soando verão no auge no inverno, se estendesse pelos próximos dias, semanas, meses. Não só pelo calorzinho gostoso que ela proporcionava, pela sensação de estar "vivendo em uma propaganda de iogurte light", mas sim, por deixar eles perto, por mais tempo. Principalmente, por aquela noite acender a esperança mesmo na mais desacreditada das românticas.
É, noites quentes realmente fazem diferença.